Custos dos insumos se estabilizaram, em patamar muito elevado, e a mão de obra preocupa a médio prazo
O setor de construção civil vem registrando certa estabilidade de preços no custo dos insumos desde 2023, após alta de quase 60% nos últimos quatro anos, segundo pesquisa da FGV-SP, divulgada no primeiro dia do 98º ENIC | Engenharia & Negócios, durante a apresentação do painel O cenário atual do preço dos insumos da construção. O 98º Encontro Nacional da Indústria da Construção é realizado pela Câmara Brasileira da Indústria da Construção (CBIC), dentro da FEICON, com o apoio do Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial (Senai) e do Serviço Social da Indústria (Sesi).
O evento ainda tem o patrocínio do Banco Oficial do ENIC e da FEICON, a Caixa Econômica Federal, do Conselho Federal de Engenharia e Agronomia (Confea), Conselho Regional de Engenharia e Agronomia do Estado de São Paulo (CREA-SP), Mútua, Sebrae Nacional, Housi, Senior, Brain, Tecverde, Softplan, Construcode, TUYA, Mtrix, Brick Up, Informakon, Predialize, ConstructIn, e Pasi.
Os debatedores apontaram, contudo, um patamar ainda muito elevado dos custos, algo que gera um impacto não só entre os empresários do setor, mas sobretudo social: a aquisição de imóveis ficou mais cara para o consumidor.
Ieda Vasconcelos, economista-chefe do Comitê de Economia da CBIC, apresentou os números recentes do custo do setor da construção, chamando atenção para as despesas com material e equipamento, que subiram 58,31%, entre janeiro de 2020 a fevereiro de 2024. “Desde de meados de 2022, percebemos uma maior estabilidade nas altas dos insumos, mas isso não significou queda de preços que não voltaram para os valores anteriores à pandemia, ressaltou Vasconcelos, que também mediou as discussões do painel.
Fatores como pandemia de Covid-19, questões geopolíticas, como a Guerra entre a Rússia e a Croácia, além do problema da falta de mão de obra no país foram apontados como fatores que impactam o crescimento do setor. “Há um deslocamento entre o preço dos imóveis e a renda dos brasileiros. São menos pessoas adquirindo moradias. É uma estratégia ruim, mas a situação econômica não acompanha”, ressaltou Renato Michel, presidente do Comitê de Economia da CBIC e presidente do Sinduscon/MG, que dividiu com Ieda Vasconcelos a moderação do painel.
A perspectiva de uma queda gradativa da Selic para 2024, em torno de 9%, é um fator positivo para o setor. Mas não será suficiente. A decisão dos gestores na cadeia de compra de insumos nessa área requer decisões estratégicas. “Precisamos de uma eficiência na compra”, defendeu Cíntia Tertuliano, Head de Produto Senior Sistemas, que abordou o uso da inteligência artificial, entre outras ferramentas, para ajudar nesse processo. Tertuliano apresentou cases de empresas nos quais houve monitoramento voltados para eficiência nas decisões de compra.
O concreto estrutural, argamassas e colantes foram apontados como exceção entre os custos que se estabilizaram. O aço longo vem registrando queda sensível nos preços, mas a médio e longo prazo a grande preocupação é com a qualidade e oferta de mão de obra no Brasil: “a elevação da média de idade dos operários e a falta de atratividade da construção civil então entre os gargalos”, segundo David de Oliveira Fratel, membro do comitê de Tecnologia e Qualidade (CTQ) e do Conselho Fiscal do SindusCon-SP.
Segundo Fratel, o Índice Nacional de Custo da Construção (INCC) foi muito impactado pelo preço internacional das commodities. O cobre, por exemplo, no período da pandemia, passou de 3 a 4.500 dólares a tonelada para 11 mil dólares a tonelada. “Esse aumento afetou diretamente o setor. Isso aconteceu também com o alumínio”, exemplifica ao destacar que o processo se repetiu de forma abrupta com a sucata de aço: “o Brasil chegou a importar o produto do Canadá, mas é interessante que com o aço o preço vem caindo de forma surpreendente. Foi o único material que ficou abaixo em relação ao período da pandemia”.
José Sylvio Ghisi, presidente da Cooperativa da Construção Civil de Santa Catarina (Coopercon-SC), destacou a importância das cooperativas como estratégia para a importação de matérias-primas na construção civil, a exemplo do aço. “A importação traz garantias de preço e previsibilidade”, diz. Ghisi citou também, entre as iniciativas, o início das operações mensais de importação de aço diretamente da Turquia diante da escassez na produção do produto no Brasil. “Essa redução é uma estratégia para aumentar o preço do aço”, lamenta. Ghisi ressaltou também o aumento do custo do cimento. Um dos fatores é o número reduzido dos fabricantes no país.
Renato Michel finalizou, destacando a complexidade da cadeia de produção da construção civil: “é um setor de ciclo longo”. Na área imobiliária, por exemplo, entre a aquisição do terreno, a aprovação do projeto, construção e entrega, isso pode levar de quatro a cinco anos. “É preciso ter um pouco de previsibilidade, já que o nosso setor envolve um alto risco”, defende. Michel também chamou a atenção para a Reforma Tributária, que não pode onerar um segmento importante da economia do país.
Esse tema tem interface com o projeto “Inteligência e Estratégia para o Futuro da Construção”, da Comissão de Materiais, Tecnologia, Qualidade e Produtividade (COMAT) da Câmara Brasileira da Indústria da Construção (CBIC), com a correalização com o Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial (Senai).